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O tema “morte” é recorrente na filosofia. Na verdade, muitos dizem que não existiria filosofia se não fosse a necessidade que temos de entender a morte e racionalizá-la para, enfim, podermos aceitá-la e convivermos com essa que é a única certeza que temos em vida.
Apesar de recorrente, a morte não é tratada da mesma forma pelos filósofos e apresenta variações de correntes e de pensamentos. De qualquer maneira, buscar entender essas teorias pode nos ajudar a ter uma relação de clareza com a morte e, obviamente, de menos sofrimento.
Quer saber mais sobre assunto e descobrir como entender a morte? Continue a leitura!
Como dissemos, existem várias correntes que buscam explicar e entender a morte na filosofia, porém, quase todas podem ser agrupadas em dois grupos importantes:
os niilistas: que acreditam que a morte é o fim completo do homem;
os não niilistas: que acreditam que a morte não é o fim completo do homem.
O que isso significa? Que, para os filósofos não-niilistas, a morte somente é capaz de aplacar o nosso corpo físico, mas a alma (ou ainda a essência de cada ser humano) permanece, mesmo após a morte. Essa é a filosofia defendida por pensadores importantes como Sócrates e Platão, por exemplo.
Já os niilistas, são conhecidos por terem uma visão mais radical e cética do mundo, englobando também a morte nessa concepção. De acordo com o niilismo existencial, a existência do homem não possui qualquer finalidade ou sentido e, por isso, não devemos procurar um propósito para a nossa existência.
Os niilistas surgem tentando negar todas as doutrinas religiosas e políticas que interferem na nossa vida e na nossa escolha. Por isso, eles acreditam que nós somos apenas um corpo e, quando morremos, esse corpo deixa de existir. Portanto, a morte é o fim completo.
Apesar disso, existem visões que diferem dentro do próprio niilismo (chamados de niilismo ativo e passivo). Enquanto alguns acreditam que a morte e o sofrimento são inevitáveis e inerentes do ser humano, outros entendem que, por estarmos livres das pressões e dos dogmas religiosos, podemos escolher como viver nossas vidas. Com isso, podemos escolher como entender a morte, a fim de nos preparamos para ela.
Se a morte é tão debatida e trouxe sentimentos contraditórios aos seres humanos durante tanto tempo, é normal que ela esteja presente em vários estudos e teorias, com concepções distintas ao longo do tempo. Veja como entender a morte de acordo com os principais pensadores:
Quando falamos em morte, quase todo mundo tem a mesma visão: da alma imortal que ascende ao céu (ou ao paraíso ou a alguma outra dimensão) e continua viva, mesmo após a nossa morte física. Essa ideia é muito antiga e foi “criada” por Sócrates, sendo um dos motivos para que ele fosse banido e condenado à morte.
Na visão de Sócrates, antes de vivermos nesse mundo, nossa alma vivia no mundo das verdades eternas, cultivando a prática do bem e do belo. Quando no mundo físico, a alma fica perdida, pois passa a ser vinculada a objetos perecíveis.
Porém, quando a alma retorna a si mesma, é capaz de vislumbrar as ideias eternas, puras e imortais que conhecera e, é neste momento, que as angústias passam a desaparecer e atingimos a sabedoria. Por isso a importância do autoconhecimento na visão de Sócrates.
Para Sócrates, a morte é algo essencial, porque é ela que permite que a alma se dissocie da matéria e alcance o verdadeiro conhecimento, estando livre em sua forma mais pura. A mesma ideia foi amplamente desenvolvida e divulgada por Platão.
Para ambos, devemos entender a morte com racionalidade e serenidade, pois é a positividade do pensamento que nos prepara para a morte. Além do fato de entendermos que ela não cessa a nossa existência, apenas liberta a nossa alma para o conhecimento amplo e livre.
Epicuro foi um dos primeiros filósofos a abordar e tentar entender a morte, mas a sua visão estava atrelada ao hedonismo e à prática de buscarmos os prazeres e a felicidade. Para ele, a morte acontece quando há a desintegração completa dos átomos que passam a ficarem livres para compor outros corpos físicos.
Isso significa que, quando morremos, já não estamos mais em posse dos nossos sentidos, o que nos torna incapazes de sentirmos dor ou qualquer outra emoção e, por isso, não existe o que temer com a morte. Entender a morte como algo desprovido de sentimentos, era uma tentativa de aplacar o sofrimento que pensar sobre a morte pode trazer. Assim, é possível levar a pessoa à felicidade, que era o ápice da sua filosofia e deveria ser o motivo de existência de cada ser humano.
Outro filósofo importante que nos ajuda a entender a morte foi Montaigne. Ao contrário de Epicuro, Sócrates e Platão, Montaigne acreditava que somente a filosofia era capaz de preparar o homem para a morte. Afinal, sem essa preparação, acabamos nos tornando vulneráveis e temerosos.
Na visão do filósofo, a morte é algo inevitável, que não está relacionada a um determinado tempo ou lugar, assim, a função da morte seria nos ensinar a viver. Não importa se você viveu muitos ou poucos anos, o que importa é a forma e a maneira como você aproveitou esse tempo.
Assim, a filosofia teria um papel fundamental em nos ensinar as formas adequadas de vivermos para que não tenhamos medo da morte, já que ela é inevitável. Somente por meio da filosofia poderíamos aprender a aproveitar o tempo que temos em vida.
Para Schopenhauer, o medo da morte não era causado devido ao fim da vida, mas sim devido à destruição do nosso organismo. Para ele, os seres davam mais atenção ao corpo do que à sua essência e, por isso, viviam angustiados perante a morte. Porém, Schopenhauer acreditava que a morte apenas cessava a existência do nosso corpo físico e não da nossa essência, que é justamente a representação da nossa individualidade – algo indestrutível e que não termina com a morte.
Nietzche era conhecido por ter uma visão niilista da morte. Porém, ele defendia que era possível ter duas posturas perante a morte: covarde ou voluntária.
Na morte covarde, essa experiência é vista como um acaso, uma fatalidade. É a falta de longevidade que faz com que o homem pregue o abandono da vida, perdendo a possibilidade de modificar a realidade.
É nesse tipo de postura que surgem os sentimentos como a raiva, a vingança e a repulsa da morte. Já a morte voluntária, é aquela que acontece no tempo certo e para aqueles que aceitam a morte, sem culpa, entendendo-a como um elemento intrínseco da vida humana. Então, um tempo bem vivido resulta em uma morte voluntária.
Como você pode notar, existem muitas diferenças sobre as maneiras de entender a morte para os vários filósofos. Porém, a maioria acredita que a filosofia é capaz de tornar a nossa aceitação da morte algo mais branda, afinal, essa é uma das poucas certezas que temos e algo que nos torna iguais.
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