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A única certeza que temos em vida é que um dia vamos morrer. Apesar de o universo da morte estar presente continuamente na nossa sociedade, ainda tratamos esse tema como um verdadeiro tabu – evitando discutir ou conversar sobre ele, com o pretexto de trazer “mau agouro” ou de ser um “assunto desagradável”.
Contudo, esse distanciamento não é salutar. Afinal, acabamos perdendo oportunidades de conhecer os desejos das pessoas próximas para quando o momento chegar, oferecer suporte as crianças na descoberta da morte e até nos fortificarmos para períodos de luto.
Quer entender melhor sobre o tema e ver dicas de como desmistificar o universo da morte? Continue a leitura!
De acordo com os pesquisadores, o universo da morte passou a ser tratado como tabu apenas no mundo ocidental moderno. Antes, contudo, a morte era vista como um acontecimento normal que precisava ser vivenciado por todas as pessoas. Justamente por isso, existiam tantos rituais, como velórios mais longos e o hábito de reunir amigos e familiares para uma refeição em homenagem aos que partiram.
Porém, após a Segunda Guerra Mundial, a valorização do presente e do hedonismo começaram a dominar. Por isso, a questão da morte começou a ser tratada de forma diferente – como algo que deve ser evitado, justamente por trazer “sentimentos pesados” que não são agradáveis de serem debatidos ou sequer pensados.
Além disso, com a Revolução Industrial passamos a ter um pensamento mais técnico e cientificista, voltado a racionalidade e ao lado prático. Porém, a morte desafia todas as ciências – já que ninguém sabe o que acontece depois que morremos. Por isso, esse é um tema que desagrada muitas pessoas, pois vai contra nossas certezas científicas e adentra no mundo do dogma e da fé.
Tanto que, o universo da morte é tratado de forma totalmente diferente em diferentes culturas. No México, por exemplo, existe uma grande celebração no Dia dos Mortos, com festas e banquetes. Quando alguém falece, os mexicanos praticam rituais alegres e sempre fazem celebrações animadas pelas almas dos que se foram.
No Japão, anualmente a morte é comemorada durante o Obon – uma celebração em que as famílias enfeitam templos e ambientes ao ar livre com lanternas e velas coloridas para receber os ancestrais que vêm visitar o mundo dos vivos.
Apesar disso, a morte é sempre bastante dolorosa. O que varia é o nível de tolerância e a formação religiosa de cada indivíduo. Afinal, dependendo da sua crença, a morte será mais ou menos triste.
Outros pontos que colaboram para a maneira como encaramos a morte são: os valores, a criação e o ambiente onde fomos criados. Por isso, quanto mais o tema for desmistificado, maiores as chances de conseguirmos lidar com ela de uma forma saudável.
É importante destacar que encarar a morte, ao invés de fingir que ela não existe, não é uma maneira de desvalorizar a vida. Pelo contrário, implica em aceitar a morte como parte de um processo natural pelo qual todos vamos passar – e que por isso precisamos criar mecanismos que tornem a “convivência” com ela mais aceitável e refletir sobre o tema.
Se abordar o universo da morte é algo complicado entre os adultos, imagina para as crianças?
Porém, é extremamente importante que os pais comecem a preparar os filhos para entender a morte – mesmo porque não estamos “imunes” a vivermos uma situação de perda em família, não apenas dos parentes, mas também dos animais de estimação que podem significar muito para os mais novos.
Veja algumas dicas de como os pais podem começar a trabalhar a questão da morte com as crianças. Confira também algumas dicas sobre como lidar com a morte de animais domésticos no nosso canal:
Nessa fase, as crianças não conseguem perceber claramente o processo da vida (ou seja, nascimento, envelhecimento e morte). Assim, elas podem não entender porque não estarão mais na companhia de pessoas próximas.
Por isso, é importante não usar expressões “amenas” para lidar com a morte, como “fulano foi dormir no céu”, “virou estrelinha”, entre outros. Afinal, a criança poderá entender a informação ao pé da letra e passar a achar que todos que estão dormindo nunca mais vão acordar, ou ao contrário, que o parente falecido apenas está cochilando ou foi viajar e logo retornará.
Tente usar exemplos práticos. Por exemplo, plante uma sementinha de feijão e ajude a criança a acompanhar o ciclo da planta. Use-a como referência na hora de explicar que alguém partiu.
Mas lembre-se que, apesar disso, ela poderá não compreender exatamente a vastidão da morte e passar a sentir a perda do ente querido apenas quando estiver mais velha.
Nesse período, a criança já começa a entender melhor os conceitos de vida e morte, por isso vale a pena reforçar o uso de exemplos práticos (como da plantinha ou de algum animal de estimação que a criança já teve).
Outra boa ideia é incluir livros sobre a morte para crianças, que abordem o tema da morte e conversar com a criança, questionando como ela se sente sobre a questão.
Esteja preparado para ouvir várias perguntas sobre o assunto (e até algumas repetitivas), já que a forma como a criança entende a morte passará por modificações conforme ela for crescendo. Contudo, é sempre fundamental oferecer apoio e ser sincero.
Assim, evite esconder seus sentimentos. Chore, explique que esse será um momento complicado para a família, diga que está sentindo saudade e mostre que a criança também tem liberdade para expressar seus sentimentos.
Outra dúvida comum dos pais é sobre levar ou não as crianças a velórios e enterros. Sempre seja honesto. Converse e explique o que será e como será e deixe que a criança decida se deseja ou não participar. Se ela não quiser ir, não a faça se sentir culpada por isso.
Como você viu, embora o universo da morte seja um tabu na nossa sociedade, falar abertamente sobre o tema é de extrema importância.
Com os mais novos, essa abertura ajuda a prepará-los melhor para as perdas e a lidar de forma mais saudável com os sentimentos de luto e dor que a morte nos traz.
Já quando adultos, debater o assunto em família é muito importante. Afinal, assim, podemos entender quais são os desejos das pessoas próximas para questões práticas como velório, sepultamento, herança, cuidados paliativos e muito mais.
Sem essa orientação, se algo inesperado acontecer, nos sentiremos muito mais despreparados e será mais difícil tomar decisões importantes.
Uma das piores consequências de transformar o universo da morte em um tabu é o despreparo ao lidarmos com o luto. Quantas vezes nos sentimos sem saber o que dizer quando alguém perde um ente querido? Ou acabamos falando coisas como “não chore, isso vai passar”?
Acabamos não dando tempo para que as pessoas vivenciem o luto e esperamos que todos tenham total controle sobre seus sentimentos, o que cria um cenário adequado para o luto patológico, a depressão, as crises de ansiedade e diversas outras situações que poderiam ser evitadas se nos preparássemos melhor para a morte.
Como você viu, embora a nossa sociedade aborde o universo da morte como um tabu, é muito importante tentarmos desmitificá-la, trazendo o tema para as conversas próximas e também debatendo a questão com as crianças e os adolescentes.
Somente assim poderemos ter uma relação mais saudável com ela, e, claro, aprendermos a viver de forma diferente, valorizando nossos momentos e a convivência com quem nos é especial.
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O Cemitério Sem Mistério faz parte das empresas Parque Renascer e Renascer Funerária e criado para ser um portal informativo referente ao momento de luto.